Paulo Hummel Júnior(*)
O Pasto do Pedrinho que conheci, infelizmente, não existe mais. Os jovens de hoje não podem sequer imaginar o significado do Pasto do Pedrinho para as gerações anteriores, como a minha, que lá tinham o seu recanto de brincadeiras, aventuras e molecagens... Poços para banhos (o famoso Poço do Pedrinho, onde a meninada disputava espaço com as lavadeiras de roupa...), cachoeiras, aves frutíferas silvestres, animais selvagens (quantos macacos!), passeios pela mata, campo de futebol. Era a fuga para a liberdade para a molecada cansada das aulas e dos deveres de casa. Quando um garoto desaparecia, lá ia a mãe procurar no Pasto do Pedrinho, que não tinha bom conceito junto às chamadas boas famílias...
Era para lá que os alunos do Ginásio São Bernardino de Siena gostavam de se dirigir nos horários de recreio, ou quando gazeteavam as aulas, para desespero dos padres, Frei David, Frei Justino e outros. Só existia uma cerca de arame farpado separando o pátio do Colégio e a felicidade. Mas “pular a cerca” era proibido, gerava punição... Como se vê, no imaginário da população, aquela área sempre foi um parque, mesmo se situando em área privada.
Mas, como disse o Chico Buarque, “quem te viu, que te vê’. Ainda na minha adolescência iniciou-se a destruição. Criou-se o primeiro loteamento, o Mãe de Deus, criaram-se ruas, canalizou-se parte do córrego que une as águas que nascem naquele sítio, uma parte foi doada para a construção da Nova Matriz, muitas invasões... Assim, como quem não queria nada, o “progresso” foi avançando e tomando conta. E os incêndios na época da seca foram cumprindo a sua sina. Parece até um milagre que uma parte da área tenha sobrevivido, apesar de altamente degradada.
A vegetação até ampliou-se, pois com a retirada dos animais, após encerramento da atividade pecuária, a pastagem deixou de ser “batida”, transformando-se em capoeira. Mas as águas estão moribundas. A erosão tomou conta da maior parte dos cursos d’água. Por incrível que pareça, a maior parte da poluição que atinge as águas daquelas nascentes são os resíduos provenientes da Estação de Tratamento de Água existente ao lado do Morro de São João. Esse produto é poluente e hoje, praticamente, não há mais vida aquática naquelas nascentes. Uma solução antiga, certamente, mas mesmo assim inaceitável.
E como num golpe de misericórdia, na tentativa de se buscar uma solução financeira para os herdeiros do espólio dos ex-proprietários, a área pode vir a se tornar o mais novo loteamento da cidade. Um bairro de luxo, voltado para a classe mais abastada da população, que pode ser construído na parte mais plana do sítio, ocupando “somente 40% da área”, deixando as encostas para a manutenção de um parque. Sequer avaliam a fundo o prejuízo que essa ocupação trará às já pobres nascentes e o perigo que isso pode representar para as inundações do Ribeirão Pirapitinga, cada vez mais frequentes devido ao aumento da velocidade das enxurradas, propiciada pelo asfalto e a canalização.
Numa tentativa desesperada de impedir mais essa agressão, enxergando a possibilidade de ali se criar um parque, aliando preservação ecológica com o lazer da população, que eu e um grupo de amigos, que se amplia a cada dia, criamos o Movimento pela Criação do Parque Municipal do Pasto do Pedrinho, que busca a desapropriação da área pelo Poder Público Municipal. Muito mais que um saudosismo, vemos a possibilidade de Catalão vir a contar com uma maravilhosa área de conservação em pleno centro da cidade, oferecendo simultaneamente um grande espaço para o lazer, aberto a todos. Isso enriquecerá muito a cidade e melhorará a qualidade de vida da população.
O Pasto do Pedrinho merece uma solução à altura do que representa para o imaginário do nosso povo. A solução que se cogita dar à área é mesquinha e míope. Um verdadeiro tiro no pé. Esperamos que nossos políticos encampem nossa proposta. A criação do parque já foi tentada em duas outras administrações, infelizmente sem sucesso, e percebe-se claramente que é um anseio geral dos habitantes. Catalão é um município rico e, além dos recursos próprios, pode-se buscar, também, outras fontes de recursos para a aquisição e manutenção do parque, principalmente as chamadas “compensações ambientais”, previstas em lei para a aplicação por parte de empresas poluentes. Entre elas, temos as mineradoras aqui atuantes (Anglo American e Fosfertil), as empresas geradoras de energia (Furnas e Serra do Facão), a Mitsubishi, afora recursos estaduais e federais.
Não permita a destruição do Pasto do Pedrinho. Junte-se ao nosso movimento. Apoie nossas ações. Visite o grupo no Facebook (www.facebook.com/#!/groups/276165025753474/) ou nosso Blog na internet (http://www.pastodopedrinho.blogspot.com/).
As novas gerações também merecem ter o seu Pasto do Pedrinho.
Viva o Parque do Pedrinho!!!
(*)Paulo Hummel Júnior é Administrador de Empresa e
empresário na área da construção civil.
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